terça-feira, 28 de dezembro de 2021

BENEFICIÁRIOS DO CARTÃO GÁS DENUNCIAM ÁGIO NA COMPRA DE BOTIJÕES


Prática é proibida e lesa uma parcela vulnerável da população brasiliense; 211 empresas estão cadastradas para vender com o benefício

Moradores da Estrutural relataram ao Metrópoles práticas abusivas em relação à venda de botijões para beneficiários do Cartão Gás, sancionado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) em agosto. Conforme as denúncias, comerciantes cobram uma espécie de ágio pela venda do produto com o incentivo do GDF. Em alguns comércios, ainda de acordo com os relatos, o valor cobrado chega a R$ 10, ou 10% do valor encaminhado pelo Buriti às famílias.

“Tem três meses que a gente recebeu o cartão, e há três eles fazem isso”, diz uma das moradoras, sob condição de anonimato. “A gente compra o botijão e eles cobram R$ 10 a mais. Se não tem, falam que ‘pode deixar no fiado, depois a gente vê’, mas alguns nem falam quanto vai custar depois. Aqui R$ 10 é muita coisa, influencia no mês inteiro”, relata.

Outro caso é de um catador, que também pediu para manter-se sob sigilo, cujas compras no mercado foram reduzidas mesmo com o benefício do governo. “Pesa porque eu vivo principalmente do Bolsa Família. Meu filho é doente, precisa comprar remédio, dá muito gasto. A comida dele é diferenciada, por isso eu preciso cozinhar algo separado para ele e outra comida para o resto da família. Qualquer R$ 10 é muito dinheiro”, lamenta o senhor.

O Metrópoles esteve em 2 estabelecimentos que, segundo as fontes, cobravam um sobrepreço quando a compra era realizada por meio do Cartão Gás. Na Estrutural, a Secretaria de Economia tem quatro lojas cadastradas. Apesar da obrigatoriedade do Procon e da Seec, apenas a distribuidora Romário Gás apresenta os preços em tabela na entrada do comércio. “O Procon já veio aqui algumas vezes, porque não foi bem repassado à população”, diz Jociel Silva, responsável pelo local.

“Nós temos um preço nosso, mas cobramos por entrega também. Aí fica R$ 110, mas muitas vezes eu nem cobro, porque levo um botijão para um pessoa que está com fome e eu sei que não tem dinheiro, porque o pessoal é humilde”, completa o empresário, que apresentou à reportagem documentos de visitas do Procon, da Secretaria de Saúde e até do Corpo de Bombeiros. “Mas tem gente na Estrutural que está escondendo o preço, sim”, admitiu.

Na GV Marinho Comércio de Gás, o dono – segundo a Receita Federal (RFB) –, Gilvan Pereira Marinho, recebeu a reportagem por trás da grade de segurança. Questionado sobre o valor do botijão de 13kg, ele rodeou. “O Cartão Gás é R$ 100, mas o valor do botijão aqui é R$ 105. O governo dá R$ 100. A tabela já tem alteração. O nosso preço na tabela é R$ 105, mas a gente negocia se a pessoa vier buscar”, explica. Questionado sobre a “negociação”, ele disse que baixa a margem de lucro para não perder clientes.

BLOG SINHÁ SABOIA/ METRÓPOLE

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