Operação Onzenário, da PF, teve como alvo o 'esquema dos consignados', criado dentro do Governo do Estado entre 2008 e 2014, e prendeu quatro suspeitos, inclusive o ex-genro do ex-secretário da Casa Civil do Ceará
Legenda: Operação Onzenário investigou fluxo intenso de capitais obtidos de forma criminosa em prejuízo dos servidores públicos estaduais Foto: Polícia Federal |
Um vendedor de água no Município de Catunda, desempregado, mas com R$ 350 mil na conta bancária. A movimentação suspeita faz a Polícia Federal (PF) acreditar que ele foi um 'laranja' utilizado pelo 'esquema dos consignados', criado dentro do Governo do Estado entre 2008 e 2014, que foi desarticulado na Operação Onzenário, nesta quinta-feira (3).
O 'laranja', que não teve a identidade revelada, foi intimado a prestar depoimento pela PF nesta manhã. "Ele está sendo ouvido para esclarecer o que justifica o trânsito desse valor, ilícito, que a operação aponta. Oriundo de uma fraude, um empréstimo consignado fraudulento, oriundo de juros ilícitos", afirma o delegado federal Alan Robson Alexandrino.
Segundo o delegado, outros 'laranjas' também participavam do esquema criminoso e já foram ouvidos no curso da investigação. "Há pessoas fictícias, que não existem de fato, mas têm o documento criado", aponta, sobre a prática de falsidade ideológica, cometida por outros 'laranjas'.
Secretário investigado
O ex-genro de um ex-secretário estadual da Casa Civil e mais três pessoas foram presas temporariamente na Operação Onzenário, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (3). Além das prisões, a Justiça Federal determinou também o bloqueio e o sequestro de R$ 106 milhões - foram apreendidos veículos de luxo, obras de arte e dinheiro e bloqueados valores de contas bancárias.
De acordo com a PF, há indícios de participação indireta de um ex-secretário da Casa Civil do Estado do Ceará, à época dos fatos em apuração (2008 a 2014). Conforme o período citado, trata-se de Arialdo Pinho, atual secretário de Turismo do Governo Camilo Santana. Pelo menos um mandado de busca e apreensão foi cumprido na residência de Arialdo.
Arialdo Pinho também prestou depoimento na PF sobre os fatos investigados. Entretanto, a defesa do secretário ainda não teve acesso ao Inquérito Policial. "O depoimento ficou bastante prejudicado e o nosso trabalho, também. Porque não há maiores informações. Aguardamos autorização para o acesso. Há um desejo de esclarecer imediatamente, mas sem ter acesso aos autos da investigação fica impossível", indica o advogado Ernando Sobrinho.
O ex-genro do secretário é Luis Antônio Ribeiro Valadares de Sousa, conforme noticiado pelo Diário do Nordeste em setembro de 2011, em denúncia feita pelo deputado estadual Heitor Férrer na Assembleia Legislativa do Ceará. Segundo a PF, ele é o proprietário de uma empresa que se beneficiou de uma fraude a licitação no Governo do Estado, em 2008, quando ficou responsável por intermediar créditos consignados de servidores públicos com instituições financeiras.
Além de Catunda, a Polícia Federal cumpre mandados em Trairi, Eusébio e Fortaleza, no Ceará; Salvador (Bahia); e São Paulo (capital). São 26 mandados de busca e apreensão e 4 mandados de prisão temporária.
Movimentação de R$ 600 milhões
Conforme a PF, a Operação Onzenário investigou fluxo intenso de capitais obtidos de forma criminosa em prejuízo dos servidores públicos estaduais, através de investimentos, aquisições imobiliárias e simulação de aquisição de cotas de sociedade empresarial, em engenhoso esquema de corrupção e lavagem de dinheiro. Ao total, teria sido movimentado ao menos R$ 600 milhões em créditos.
Os crimes investigados são de associação criminosa, corrupção, fraude em licitação, crimes contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro, culminando em enriquecimento ilícito dos investigados, que são servidores públicos, ex-gestores de instituições financeiras e empresários, em detrimento do sistema financeiro nacional e dos servidores públicos estaduais do Estado do Ceará obrigados a arcar com juros mais elevados em operações de crédito.
Os mandados foram deferidos pela Justiça Federal, decorrente de investigação em inquérito policial que apura os supostos crimes, que teriam ocorrido entre os anos de 2008 e 2014, segundo a PF, em indícios de conluio entre agentes públicos estaduais, ex-gestores de instituições financeiras e empresários que atuaram no direcionamento ilícito de operações de crédito consignadas em folha dos servidores do governo do Estado do Ceará.
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