Para evitar novo confronto, a Sejus ainda transferiu 44 presos para unidades prisionais da RMF.
Membros de facções criminosas presos na cadeia eram separa dos em celas diferentes, disse o delegado André Firmino ( FOTO: Cid Barbosa/Diário do Nordeste )
A Polícia Civil indiciou seis presos por homicídio qualificado após a chacina na Cadeia Pública de Itapajé, ocorrida na manhã desta segunda-feira (29). Eles já possuem uma vasta ficha criminal, segundo detalhes repassados pela Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado (Sejus).
Os flagranteados foram identificados como Alex Pinto Oliveira Rodrigues (24), com passagens por contravenção penal, roubo, dano, direção perigosa, crimes de trânsito e porte ilegal de arma de fogo; Antônio Jonatan de Sousa Rodrigues (22), com passagem por roubo e corrupção de menor; Artur Vaz Ferreira (26), com passagens por furto e porte ilegal de arma de fogo; Francisco das Chagas de Sousa (24), conhecido por "Chicó" e com passagens por lesão corporal dolosa, porte e posse ilegal de arma de fogo; Francisco Idson Lima de Sales (19), com passagens por tentativa de homicídio e roubo; e William Alves do Nascimento (20), conhecido por "William do Cavalo" ou "Batata", com passagens por crime de trânsito e homicídio consumado.
Além dos responsáveis pelo crime que deixou homicídio qualificado, a Sejus anunciou a transferência de 44 internos para unidades da Região Metropolitana de Fortaleza. Conforme o delegado da cidade, André Firmino, a unidade contava com mais de 80 presos, com membros de facções criminosas, como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), separados em celas diferentes.
Crime
O confronto se deu durante o banho de sol, que começa, diariamente, às 8h. Neste momento, todos os detentos acabam ficando no mesmo espaço e, conforme ainda o delegado André Firmino, somente um agente penitenciário fazia a segurança da unidade prisional.
“É o momento mais delicado o banho de sol deles, porque ficam todos juntos no pátio e é difícil segurar”, comenta Firmino.
Armas
Uma vistoria havia sido realizada poucos dias após o Natal e, na ocasião, facas e celulares foram apreendidos. Já nesta segunda, logo após a chacina, foram encontrados dois revólveres, 38 munições, duas facas, drogas, além de aparelhos celulares.
Os presos mortos foram identificados como Alex Alan de Sousa Silva (arts. 157 e 288), Caio Mendes Mesquita (art. 121), William Aguiar da Silva (art. 14), Francisco Davi de Sousa Mesquita (art. 33), Francisco Emanuel de Sousa Araújo (art. 33), Francisco Helder Mendes Miranda (art. 33), Francisco Mateus da Costa Mendes (arts. 16 e 33), Manuel da Silva Viana (art. 33), Carlos Bruno Lopes Silva (art. 33) e Francisco Elenilson de Sousa Braga (art. 121). Alguns internos foram feridos, tiveram atendimento no hospital local e voltaram à unidade.
Outros três internos tiveram ferimentos mais graves e precisaram ser transferidos para outra cidade. O confronto foi controlado por agentes penitenciários do Grupo de Operações Regionais e policiais do município.
As investigações permanecem no intuito de descobrir a motivação das mortes. As armas foram levadas para realização de exames periciais na sede da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce).
Vistoria
Nesta segunda-feira (29), o núcleo da defensoria pública especializada em execução penal (NUDEP) visitou a cadeia para acompanhar a situação dos presos sobreviventes da chacina e os familiares daqueles que vieram a óbito.
“Infelizmente em Itapajé nós não temos um defensor público titular, mas especificamente nesse caso, vamos acompanhar esse processo. Já conversamos com a juíza, tratamos sobre certidão de antecedentes e até quinta estaremos recebendo tudo”, revelou a supervisora do NUDEP, Marilene Venancio.
Emerson Castelo Branco, defensor público e supervisor do núcleo de assistência aos presos provisórios e vítimas da violência (NUAPP), relatou que viu uma situação extremamente precária na cadeia de Itapajé. “Superlotada e, o pior: com duas facções brigando e apenas um agente para controlar o incontrolável. Porque não tem condições, é humanamente impossível uma cadeia pública funcionar dessa forma e com todo esse agravante das lutas entre elas”.
“A situação lá é de uma tristeza imensa, não somente pela precariedade mas porque as cenas lá dentro eram de guerra. Quando a gente chegou o sangue tava sendo lavado do chão. Foi muito duro anunciar para as famílias de quem havia morrido”, contou o defensor.
A maioria dos presos assassinados eram provisórios. “É importante que as pessoas ali haviam cometido delitos, mas que eram seres humanos. Mas quem morreu tinha filhos, esposas, mães, irmãos, amigos, que estavam sofrendo mais essa tragédia que abala nosso estado. É preciso reconstruir tudo isso”, complementou Emerson.
Balanço de assassinatos
Conforme o balanço parcial da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) com informações datadas até o dia 24, o Ceará tinha registrado 346 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) em janeiro, além de duas mortes em unidades prisionais.
Considerando somente a chacina da Cajazeiras, ocorrida no último sábado (27) deixando 14 mortos, o número de assassinatos desde mês já é maior do que o mesmo período de 2017, quando foram registrados 349.
Naquele mesmo mês, a Secretaria havia catalogado três mortes em prisões do Estado. No ano todo, 38 pessoas foram mortas em presídios do Ceará.
(Diário do Nordeste / Foto Cid Barbosa)