Sergio Moro anunciou demissão nesta sexta-feira (24)Adriano Machado/Reuters - 13.04.2020
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro anunciou que deixa a chefia da pasta e lamentou a necessidade do pronunciamento nesta sexta-feira (24), em meio à pandemia do novo coronavírus.
"O presidente me quer fora do cargo, porque essa precipitação na realização da exoneração não tem muito sentido", afirmou Moro, dizendo que não assinou a exoneração do diretor-geral da PF (Polícia Federal), Maurício Valeixo, e que descobriu a decisão pelo DOU (Diário Oficial da União).
Moro diz que não se sentiu confortável com a decisão de Bolsonaro. "Há um compromisso da minha biografia como juiz e não me senti confortável, tenho que preservar minha biografia. Mas, principalmente, tenho que assumir o compromisso com o presidente e um pressuposto é garantir o respeito a lei e a autonomia da política federal contra interferências políticas. Ele havia assumido um compromisso de que seria uma escolha técnica, eu faria essa escolha desde que tivesse uma causa. Não posso concordar".
O ex-ministro disse que sempre houve uma preocupação da interferência do executivo nas investigações da operação Lava Jato e que "Valeixo fez um grande trabalho e foi garantida a autonomia da polícia federal".
Moro disse que precisaria de um motivo para demissão de Valeixo. "Não é uma questão do nome, tem outros bons nomes para assumir o cargo de diretor da PF. Houve uma quebra da promessa que me foi feita, não haveria causa e estaria claro que haveria uma indicação política na polícia federal, com impacto na efetividade da PF e uma queda da credibilidade", afirmou.
O ex-ministro diz que troca seria um "grande equívoco". "O problema é que nas conversas com o presidente é que não é só a troca do diretor geral, mas a intenção de trocar superintendentes do Rio de Janeiro, de Pernambuco, sem que fosse me apresentado uma razão, uma causa para realizar esse tipo de substituição para que fossem aceitáveis, busquei postergar essa decisão, sinalizando que poderia concordar no futuro, pensando que poderia ser alterado, mas cada vez mais pensando que seria um grande equívoco".
Apesar de "defeitos" do governo durante a Lava Jato, Moro afirma que este garantiu a autonomia da PF. "O governo da época tinha inúmeros defeitos, crimes gigantescos de corrupção, mas foi fundamental a autonomia da PF para realizar esses trabalhos, essa autonomia foi mantida para que esses trabalhos fossem alcançados: a autonomia das investigações", disse.
O ex-ministro afirmou dizer ao presidente que a indicação "seria uma interferência política e ele disse que seria mesmo". "[Bolsonaro] disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal, que pudesse ligar, ter informações e não é o papel da PF prestar esse tipo de informações, o papel tem que ser preservado. Imagine se Dilma ou Luiz ficasse ligando para Curitiba para colher informações".
Moro afirmou que jamais pediu uma indicação ao STF (Supremo Tribunal Federal) e que sua única condição para assumir o cargo era que, caso alguma coisa acontecesse com ele, que sua família recebesse uma pensão para não ficar desamparada, já que perdeu a aposentadoria como juiz quando deixou o cargo para assumir o ministério.
BLOG SINHÁ SABOIA/ FONTE: R7
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